sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Miopia e multiplicação: a aula de teoria em gravura que frequentei na ECA/USP.

Tendo vindo de Brasília para São Paulo, onde fixei residência desde 31 de julho de 2010, com o objetivo de ser ouvinte de três disciplinas da ECA, apresentei-me ao professor Dr. Marco Buti no dia de meu aniversário, um mês e pouco antes do início do segundo semestre, e recebi a resposta positiva para ser ouvinte em sua disciplina Multiplicação e Miopia: um Esboço Não-científico de uma Possível Inserção da Estampa na História da Arte. Desejosa de um projeto de mestrado com o suporte em cartaz feito em serigrafia, arrisquei a participação nessa disciplina, porém temendo um total desinteresse de minha parte sobre um assunto ao qual, durante toda a graduação, dei a importância a qual uma aluna, perdida que fui durante os primeiros semestres do curso, dedica às disciplinas obrigatórias como foram xilogravura e litografia: preguiça (ok, me envergonho disso hoje). No decorrer da disciplina do professor Buti e das outras duas das quais participei também como ouvinte, percebi que meu (des)interesse em gravura ou estampa baseava-se numa superficialidade do conhecimento que tinha sobre isso. Sequer tinha consciência da minha desvalorização da relevância da gravura na história da arte. Da superficialidade de meu conhecimento, desse sim, eu tinha consciência. Mesmo assim e talvez até por isso, firmei comigo um compromisso de freqüentar as aulas visando conhecer professores que desenvolvessem uma pesquisa que pudesse ter afinidade com meu "projeto de projeto" e, conseqüentemente, me fazer conhecida por alguns deles. Compareci a todas as aulas, salvo uma ou outra que algum infortúnio boicotou. Para minha surpresa, minha expectativa semanal na disciplina foi extrema. Não porque tive súbito interesse em gravura, suas técnicas, seus principais artistas ou mesmo estética particular, mas porque a aula desenvolveu-se numa generosa oferta de conhecimento e estudos do próprio professor e um diálogo aberto com os alunos. A união dessa oferta generosa, do conhecimento teórico do professor aliado a sua experiência de prática artística em estampa e da abertura de diálogo possibilitou a mim, mera ouvinte, espectadora, que por vez ou outra ousou a fala, um novo pensamento quanto à história da arte, quanto ao seu desenvolvimento, e quanto aos meus maiores interesses: a função social da arte e o contato com o público. (São dois dos assuntos bases que permeiam o que quero desenvolver como projeto de mestrado, mas não exigem atenção nesse texto.)

Pode parecer estranho e o leitor do blog pode estar se perguntando o que isso tem a ver com a aula de gravura afinal. Daí minha surpresa. O foco do professor não estava exatamente na gravura e sua estética dados os quesitos técnicos, mas a partir disso, o foco fez-se na relevância da gravura como suporte móvel e acessível, a beirar a banalidade, dependendo da finalidade da gravura. O foco estava na prática histórica da gravura como "imitação" de pinturas para o maior alcance público daquela imagem; na necessidade de um rigor técnico que desfaz, definitivamente, a imagem do gravador como mero imitador, e o coloca como novo feitor de uma imagem em estampa, cujas estética e técnica são completamente diferenciadas da pintura. Duas importantes considerações para essa futura mestranda: 1) o alcance público – do grande público – importava a ponto de demandar o desenvolvimento de técnicas que permitissem esse fluxo e 2) a imagem dependente de seu suporte: uma pintura, uma fotografia, uma gravura, um desenho, um vídeo – são todos diferentes entre si, mesmo que exibindo uma mesma composição imagética. A visão de um mesmo jarro de flor em diferentes suportes experimenta possibilidades estéticas apenas reveladas quando realizadas. Pois cada suporte carrega características próprias fazendo com que, aquela reprodução que vemos em livro de arte, por exemplo, de uma pintura de Monet, faça daquela imagem ali no livro, algo diferente da pintura em si. Talvez isso seja obvio para alguns, tantos discursos já ouvi de professores que defendiam que imagens de arte não podiam ser estudadas apenas sobre reproduções por essas não representarem, de fato, o que eram. Mas durante essas aulas, numa comparação mais relevante entre pintura transformada em gravura e diante a conclusão de que não tinha como isso ser visto apenas como uma transcrição pois tratavam-se – a pintura e a gravura – de coisas diferentes, vi a dificuldade que tenho em enxergar relações semelhantes do nosso dia-a-dia de estudo em arte. De alguma maneira, percebi que para mim, a imagem que vejo em reproduções revelava o suficiente sobre ela – os aspectos formais, as características estéticas. Assim, quando na oportunidade da real presença diante a um trabalho original em alguma exposição, me sentia diante de algo que já vi antes, que já conheço de reproduções. Não me percebia diante a uma imagem nova. Mas, conseqüentemente, se a gravura que reproduz determinada pintura era uma imagem nova, toda reprodução é uma imagem independente de sua "original"? ou o que define isso é a técnica da reprodução? Nossas técnicas de reproduções contemporâneas feitas em xerox, scanner e fotografia não podem ser consideradas como um suporte artístico como revemos hoje a gravura?

Freqüentar as aulas do professor Buti foi deparar-me com meus preconceitos velados, tantas vezes apontados por mim mesma no público que atendia dentro de galerias de arte. Reafirmo minha surpresa e ainda tento entender exatamente como uma aula que trataria de gravura far-me-ia repensar minha visão de arte e das imagens que "conheço".

Buti trouxe a relação histórica do gravador versus pintor ou artista. No surgimento da gravura (séc. XIV/XV), o gravador era um técnico "transcritor" de uma imagem previamente elaborada por um artista – dotado de inspiração/revelação divina e contendor da genialidade criativa – para uma chapa em metal que permitisse sua reprodução. Sequer visto como artista o gravador era. Essa profissão fazia parte do ramo manual, técnico, como curiosamente o eram o cirurgião e o barbeiro. Atividades manuais desprovidas de habilidades intelectuais. E como todos sabemos, a intelectualidade era supervalorizada (confesso que também não acho isso ruim). Mas o que Buti (e também Sumaya - outra professora de quem tive o prazer de ser ouvinte, essa já na área de educação) defendia não era, obviamente, uma desvalorização da intelectualidade, mas a existência inegável da intelectualidade da técnica e do conhecimento prático. Durante o diálogo em grupo, uma aluna citou uma relação de valores percebida por uma colega que havia estudado pintura fora e cujas aulas dedicavam tempo e estudo das tintas apropriadas para cada intenção, dos secantes e solventes apropriados a cada tinta, das reações químicas, ou seja, do conhecimento técnico. Em um segundo curso, uma segunda colega (ou a mesma) interessada na técnica de pintura teve pelo seu ministrante o posicionamente: "interesse-se em pintar, se vai craquelar, descascar, dissolver, desaparecer – isso é problema do restaurador". E eu mesma pude citar meu exemplo de quando em aula de Pintura 1 na UnB, ao perguntar para o professor como se "fazia tal efeito", fui muito categoricamente respondida: se você quer aprender a pintar, vá cursar Belas Artes no Rio! Equivaleria a um "vá tomar no ..." artístico?! Enfim, naquela época (creio que durante todo meu curso) eu me julguei errada e pareceu-me ser meu dever entender a faculdade de arte em que me encontrava como "acadêmica" (?!). Afinal, o que isso significa? Que o conhecimento prático perdeu a importância, a razão? Ou que quem se gradua em artes plásticas hoje em dia precisa saber falar/escrever sobre isso, pintar que é bom, gravar, fotografar, esculpir – tudo isso está em segundo plano, é hobby particular?

Agora penso: passei minha graduação convencendo a mim e aos outros (familiares insistentes) de que não pintava e não era porque fazia artes plásticas que eu deveria saber pintar! Para chegar à minha primeira aula de pós, mesmo como ouvinte, e ser convencida do contrário, assim, no primeiro momento, com o primeiro professor que me aparece?! Foi isso mesmo. O primeiro, o segundo e o terceiro, todos eles que me apareceram – aliás, para quem eu apareci, afinal fui eu quem caiu na ECA sem pára-quedas. Não que me embarace o fato de ter concluído o curso em Artes Plásticas na UnB sem dominar, ou sequer me identificar com nada prático. Mas foi na ECA, me sentido um peixe fora d'água, que (pasmem) descobri que me formei (em essência) em História, Crítica e Teoria da Arte, mesmo sem existir essa habilitação no curso de bacharelado que completei. Escrevendo esse texto, levantei-me para conferir meu diploma e de minha amiga que divide residência comigo e que se formou no mesmo curso: Bacharel em Artes Plásticas, no verso: habilitada em – risco de caneta (?!). O curso da UnB não exige (nem oferece) especialidades, como o da USP, onde os alunos de artes visuais podem graduar-se em gravura, escultura, desenho, pintura ou multimeios. Os alunos da UnB podem formar-se no que quiserem, incluindo nada. Contudo, esse texto não tem como finalidade uma crítica ao currículo da UnB, foi apenas uma constatação que fiz durante essa escrita. Uma constatação de que a técnica e o conhecimento prático continuam sendo descriminados na academia atual como menos relevantes para a formação intelectual. O que me fez, enfim, entender a palavra "miopia" na composição do título da disciplina de Marco Buti.

O curso proposto pelo professor Buti contribui com a revisão da relação histórica da atividade manual versus a intelectual e ainda dos valores dela originados. O curso não propõe apenas a inserção da estampa na história da arte, mas o reconhecimento da recorrente necessidade de retificação de valores, práticas, razões, origens, conceitos e legitimações formadas e formadoras da história da arte e daqueles que a estudam e que com ela contribuem. Quando não investigada isoladamente, mas integrada à toda conjuntura histórica, a gravura tem muito com o que contribuir na formação em arte dos alunos acadêmicos, inclusive com sua aprendizagem técnica. Se arrependimento resgatasse o tempo, estaria novamente deslizando uma pedra sobre a outra nos ateliês de lito e procurando madeiras de melhor qualidade para conseguir explorar o potencial que o material estava a me oferecer nas aulas de xilo e eu a recusar.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Gênero, sexualidade e imagem

Esse foi o tema da minha diplomação, procurei algum texto mais resumido para postar aqui mas o menor tinha 15 páginas...
Acho que não consigo pensar resumido sobre gênero e sexualidade, nem sobre imagem. Escolhi esse tema porque não o compreendo bem, não sou tranquila sobre ele e porque cresci ouvindo meu pai dizer que com três mulheres em casa a louça não tinha como ficar suja! O mesmo pai que disse que casar é bobagem e que minha prioridade deve sempre ser eu, que não devia depender de marido e que estudando se chega onde quiser. Hum...
Meu pai é machista? Não mais que eu, de repente, que você também... Aracnis, por mais que tentasse tecer algo original, diferente de tudo o que existisse, não conseguia fugir do que conhecia, do que a tinha formado: a cultura. Bom, nem lembro mais dessa história direito, mas o que guardei foi isso. Enfim, o que me fez escolher esse tema foi o destino (hahaha). Achei que o tinha escolhido para minha diplomação, mas hoje percebo que escolhí Artes Plásticas por ele. A imagem de gênero sempre me fascinou, pro bem e pro mal (lê-se: abertamente, mas também cheia de preconceitos), e mais tarde vim descobrir o que diabos é essa "sexualidade". Ainda dói entender que não se trata apenas de desejos sexuais, mas de relaçãoes de poder (segundo Foucault, pelo menos), mesmo dentre aquelas que não envolvem relações sexuais (segundo Freud, tais relações non ecxistem, son crentices- aí já é segundo Padre Quevedo - hehehe).
Então que imagens seriam essas de gênero e sexualidade senão todas? Dos comerciais de papinha de neném aos comerciais eleitorais, dos outdoors às roupas que escolhemos usar, nossos cortes de cabelo, axilas, pernas, trejeitos - não consigo excluir nada. As imagens não fascinam apenas àqueles que resolveram trabalhar diretamente com elas, fascinam à humanidade, claro! Olhemos ao redor, mesmo os que não podem fisicamente enxergar.
Sei que sou muitas vezes chata em ficar falando disso o tempo todo ou ver esse assunto em tudo, mas fico impressionada como aparecem coisas tão berrantes sobre as quais ninguém comenta! E não estou falando de assuntos bafónicos das celebridades ou novelas, estou falando do dia-a-dia. Como quando uma amiga ficou grávida e fui, acompanhada de outras amigas, assistir ao vídeo pré-natal que revelaria o sexo da criança. Depois de um tour pelos órgão vitais, para mim simplesmente ininteligíveis visualmente falando naquela massa cinza chapiscada que me parece a imagem de um ultra som, eis que surge ela, a racha da criança, portanto, menina. O áudio do vídeo era a voz do obstetra narrando a aparição de cada um dos órgãos, enquanto tentava ajudar o espectador a identificá-lo circulando-o com o mouse (esforço inútil, na minha visão). Quando a criança abriu as perninhas e nos permitiu visulizar sua vagina, veio o tom de encerramento do doutor, aquele também facilmente identificado em narrações futebolísticas, quando a voz vai acalmando, o jogo nos segundo finais: e surge uma linha computadorizada circulando a vagina da criança de onde o doutor puxou uma pequena seta e escreveu ---> Sofia.
Ok, caso você ainda não tenha entendido meu ponto (apesar de, como já notou, eu achá-lo BERRANTE), pergunto: por acaso você tem a foto do seu pênis ou da sua vagina na sua carteira de identidade?!!! Ora, colocações (acredito sim que muito pertinentes) a parte, sei que o ultra som era justamente para saber o sexo da criança. Tivesse escrito ---> Menina! Sei também que o rosto de uma criança dentro do últero é beeeeem igual a quase todos os rostos de crianças dentro do últtero, mas se os pais e familiares se importassem com isso, nao tratariam de já identificarem traços familiares desde lá! Enfim, o que define a criança ser A Sofia é sua vagina?!!! É... eu acho isso, no mínimo, algo a ser pensado!
Exporei mais meus zig milhões de pensamentos sobre o tema em outras postagens, como homem=macho? mulher= fêmea? Um macho pode ser mulher? Uma fêmea é necessariamente uma mulher, independente de sua atividade sexual? Etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, ...., etc, etc, etc...

História sobre uma piscina.


Uma piscina não te parece algo capaz de motivar uma história? Mas motivou...


A piscina tinha ½ metro de profundidade e todos os dias várias pessoas tiravam seus sapatos, dobravam as pernas das calças e passavam dentro dela.

Aliviavam seu calor e se divertiam.

Mas um dia, uma menina mudou aquilo. No começo, ela fazia a mesma coisa: tirava seus sapatos, levantava as calças e passava por dentro da piscina. Mas o calor dessa menina aumentava e aumentava a cada vez que passava dentro da piscina e um dia ela percebeu que o que ela queria mesmo era deitar-se inteira na água. Então ali mesmo ela tirou a roupa na frente de todos e deitou-se inteira na piscina.

Ela achava que era o preço a pagar: expor-se daquela maneira em troca do bem estar que só a refrescância de seu imenso calor podia-lhe proporcionar. E lá deitada ela sorriu por um dia inteiro.

Por dois

Por mais dois.

Mas num outro dia, a menina já estava por demais entediada de ali estar deitada, parada. Seu calor persistia e agora uma ansiedade tamanha fazia companhia a ele. Foi quando ela pensou: "Já estou aqui toda dentro d'água, sem roupas a me cobrir. Que mais posso querer eu?"

Era clara a resposta: nada.

Nada mais podia ela querer, então como controlar aquela situação? A menina tinha que achar um jeito de acabar com a ansiedade e terminar com seu calor. Ela respirava fundo, ela esvaziava sua mente, ela não prestava atenção a mais nada ao seu redor e tudo o que fazia era estar ali, deitada, nua e imóvel, concentrada em vigiar se a ansiedade diminuía e se o calor esfriava.

Passou um dia inteiro assim.

Dois. Mais dois.

E ela percebeu que a ansiedade vigiada ainda era ansiedade e pior, começava agora a criar um nervoso, um nervoso tão chato que lhe fazia suar a testa. "Putz! Meu calor aumentou!" pensou ela de primeira. Mas a menina estava enganada - era o nervoso que a fazia suar, pois o calor já esfriara. Então ela teve outra idéia: "Vou precisar de mais água para me refrescar!" E passou a fazer água pelos olhos que escorriam pelo rosto até pingarem na piscina rasa.

E passou o dia inteiro assim.

Mais outro dia.

E outro.

E outros.



Um dia a menina percebeu que o calor havia diminuído e ela conseguia pensar melhor agora. Viu que a ansiedade aumentara com o nervosismo. E finalmente descobriu que tinha achado antes a resposta errada: "Se já estou aqui toda dentro d'água, sem roupas a me cobrir, que mais posso querer eu? " Ora! Era clara a resposta:

Nadar.

Não era o calor demasiado, era a piscina muito rasa!

E a menina saiu, ainda desnuda, para sempre desnuda, à procura de uma piscina funda o bastante para ela e o mergulho, que sem saber anteriormente, sempre ansiou tanto dar.

Imagem: Uwe Loesch Viva 1992

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sim, existem aqueles que entram em Artes Plásticas sabendo o que estão fazendo e onde estão se metendo, têm tudo sob controle e é o que eles sempre quiseram. Não participo desse grupo, o meu grupo é aquele que lá chegou de pára-quedas, que ouviu o que outros (estranhos, muitas vezes) diziam quanto à qualidade dos rabiscos e acreditou, cedo ou tarde (no meu caso tarde), que tinha "talento"ou aquela palavrinha encantadora e enganadora: dom.
Uma vez lá dentro, integrantes desse segundo grupo perdem-se mais ainda, desesperam-se muitas vezes mas acabam encontrando um jeito de alienarem-se a esse sentimento e cabulam as aulas, picareteiam meeeesmo! (Afinal se tudo em arte é possível, nas aulas também o deveria ser). Se entram desenhando, desaprendem o que "conseguem", se entram esculpindo, as formas perdem-se, a academia faz só depois de desfazer. Aliás, a academia mesmo, só desafaz, e te convence que só assim, você, sozinho, poderá ser capaz de fazer algo de fato. Até que - tchatchathcatchaaaaaam -  pessoas como eu envolvem-se com aquela loucura toda e percebem-se, ao menos em essência, artistas!
Wow, então é assim que aquele primeiro grupo se sentia?!! Agora eu entendo... entendo que nada entendo e que talvez nunca venha entender de fato, porque a verdade é aberta, não fechada, não se encerra em palavras ou conceitos. Agora vejo que tudo isso que da modernidade pra cá (artisticamente falando) que as pessoas, de um modo geral, não entendem ou tentam compreender com a frase mais auto depreciativa que existe "Isso eu também faço" é fan-tás-ti-co! É a aceitação e utilização da inerente e irremediável SUBJETIVIDADE. Que em quase todos os aspectos, menos o artístico, é desconsiderada, desvalorizada e substituída pela lógica, pelo concreto, pela racionalização. Não que a Arte não possa ser tudo isso, ela pode e pode mais e mais e mais. Tudo pode ser Arte? SIM! Arte pode ser tudo? SIM! Arte é pensar sobre Arte. Realizar objetos, imagens, movimentos, sons, coisas. Arte é essa palavrinha proibida nos textos formais: coisa.
O ser humano pode coisar, pegar coisas, fazer uma coisa, ouvir uma coisa, dizer uma coisa, ler e escrever uma coisa. Coisa é algo sem definição nítida, mas que dependendo de como se diga/faça/escute, todo mundo sabe do que se está falando, mesmo que não se entenda.
Esquisito, perdido, estranho, doidão? É. Todos somos, aqui ou alí, todos somos.
Somos formados pela expressão, mesmo quando não há comunicação. As imagens (lembrando que sou Artista Plástica) participam da expressão. Somos cercados delas, mesmo aqueles que não enxergam formam imagens mentalmente. Como seriam essas? Não faço a menor idéia e acredito que para quem pode enxergar é impossível imaginar isso, pois para esses, a imaginaçao é formada por - imagens!
Confio na Arte como ferramenta humana, tal como a matemática, a família, a religião (...), possibilitadora de captação do mundo e, consequentemente auto-captação (ou vice-versa).
Confio nas galerias de arte, no simples fato delas existirem, como a assumpçao da relevância da imagem, que falando assim, parece até que é dada pelo ser humano. Mas é muito mais: da relevância da imagem, depende o ser humano. O ser humano depende de auto consciência, foi assim que nós surgimos, percebendo-nos conscientes de nós mesmo e daqueles ao nosso redor, aos poucos, fomos dando maior ou menor importância para tudo isso de acordo com nossas organizações sócio culturais. Bem, aqui estamos, mas aqui nos percebemos afinal? Bom, não sei se apenas Freud, mas para mim, a Arte explica.

Resistís, Graduados artistas plásticos! Essa imagem é arte de um rapaz que conhecí no Rio: Andrei Yurievitch! Viu, prometí o nome e cumpri, e pior é que foi super fácil de achar.Se clicar na imagem, abre um link.

ro.v